terça-feira, 15 de novembro de 2011

"A vaidade é o meu pecado favorito"


"O filme advogado do diabo revela a estratégia de satanás: controlar estruturas econômicas, políticas e jurídicas. Ele faz isto enredando homens que por causa de sua vaidade pessoal são atraídos a esquemas ilícitos. Na sua busca de poder,dinheiro e sexo o homem vai anestesiando gradativamente sua consciência e destruindo sua família.
Em duas ocasiões somos surpreendidos por esta fala de Milton (Al Pacino): - "a vaidade é o meu pecado favorito".
De todas as fraquezas humanas a vaidade é que ele melhor conhece e mais explora.
A vaidade é filha do orgulho que é a raiz de todos os pecados. Orgulho é essencialmente destronar Deus do coração e colocar o "eu" no seu lugar. É o próprio pecado de Satanás, o primeiro pecado (Is 14.12-15), como também a tentação a que Eva sucumbiu: "sereis como Deus" (Gn 3.2-4). Foi a tentação do orgulho e autonomia de Deus que Jesus enfrentou no deserto (Mt 4.1-11).
Caímos na tentação do orgulho cada vez que deliberadamente descartamos a vontade de Deus para fazer o que nos agrade. É em si mesmo um pecado, mas também a fonte de todos os outros pecados.
O orgulho se expressa através de todas as formas de auto-suficiência e idéias amplificadas de suas próprias habilidades, virtuais e importância, sempre comparadas com os outros que são considerados inferiores. O orgulho nos leva ao desejo de ser admirados, estar no centro das atenções, ser sempre acatados nos nossos julgamentos, ser respeitados nas nossas opiniões, e de impor sempre nossa vontade aos outros, nunca sendo contrariados.
O orgulho tem três filhas: a presunção, a ambição e a vaidade.
A presunção é o desejo de coisas elevadas demais para si e se expressa no alarme contínuo de virtudes próprias e uma forte camuflagem dos defeitos. A presunção pode ser espiritual quando nos consideramos mais crentes do que todos. Intelectual, quando profissional nos julgamos mais capacitados do que todos os outros.
A ambição é o desejo incontrolável de honra, autoridade e bens materiais. O homem ambicioso não suporta ter um papel secundário, ou uma posição subalterna, e freqüentemente ele não tem escrúpulos no que diz respeito aos direitos dos outros.
A vaidade é o desejo obsessivo de ter uma boa reputação, que os outros nos tenham sempre em elevada consideração e pensem bem de nós. O vaidoso quer sempre criar uma boa impressão, quer aparecer bondoso e eficiente e detentor de elevados ideais, sempre dando exemplo de si mesmo com referencial de conduta correta.
O orgulho não consegue ficar na dor do nada. Tampouco é capaz de admitir suas falhas. Veste-se da onipotência e da onisciência, e o que realiza não é motivo pelo prazer, mas necessidade de provar seu valor e busca de afirmação.
Na espiritualidade clássica cristã o orgulho da lista dos sete vícios capitais: orgulho, ira, lascívia, gula, avareza, preguiça e inveja. Assim os pecados capitais são vistos como vícios, isto é, não apenas acidentes de percurso, mas atitudes enraizadas no nosso ser e no nosso caráter. Pecados que nos controlam e dos quais não podemos nos livrar.
Nos tornamos viciados no orgulho, ou algum outro pecado capital. A boa notícia do Evangelho é que "o pecado não terá domínio sobre vós" e assim "não reine, portanto o pecado em vossos corpos de maneira que obedeçais as suas paixões", Rm 6.14 e 12.
Ao reconhecer esta fraqueza no nosso caráter podemos admiti-la em confissão e buscar, através da leitura bíblica, da oração e dos exercícios, desenvolver a virtude da humildade.
Crescer na humildade é a única maneira de fazer face ao vício do orgulho. Humildade vem do latim "humus" que significa solo fértil. Como escreve Anthony Bloom é "o estado da terra", sempre perto de todos, desvalorizada, pisada, não notada. Ela está ali silenciosa, na esperança, transformando tudo em nutrientes poderosos para gerar vida. A humildade é deixar-se usar pelos outros, amar, servir como Cristo que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos, (Mc 10.45).
Que possamos viver a nossa fé, com discernimento das forças interiores e exteriores que insidiosamente nos seduz e nos atraem para o mal e para longe de Deus. Que assim possamos viver a nossa fé absolutamente firmada no Cordeiro de Deus, resistindo ao mal e ao pecado e exercitando o bem e a virtude."

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